A Carta de Osama

Ah-la u sah-la, meu nome é Osama bin Mohammed bin Awad bin Laden, mais conhecido como Osama Bin Laden, além de um dos membros sauditas da próspera família Bin Laden, fui líder e fundador da al-Qaeda, organização terrorista famosa pelos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos e numerosos outros contra alvos civis e militares. Contexto é tudo. O mundo pode virar de cabeça pra baixo quando mudamos o contexto. Antes de me julgar, vamos nos situar no contexto desta carta. Se ao final, você ainda quiser fazê-lo, eu lhe dou o endereço do coitado do escritor deste blog, que não tem nada a ver com o babado e você pode sequestrar alguns teco-tecos e jogar no telhado dele. Bem, agora que já nos apresentamos, você está me vendo como uma pessoa normal  e não como o monstro do lago Ness, vamos tratar de negócios.

Sabe aquela noite do flashback terrível que aquela faculdade UNI-alguma-coisa perto da sua casa insiste em fazer todo ano aí no Ocidente promíscuo que você vive? pois é, faremos uma agora: No dia 11 de Setembro de 2001, uma série de ataques suicidas – coordenados por mim – foram maestrados contra os Estados Unidos. Na manhã daquele dia, 19 dos meus terroristas sequestraram quatro aviões comerciais. Nós intencionalmente batemos dois dos aviões contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, matando todos a bordo e muitos dos que trabalhavam nos edifícios. O terceiro avião de passageiros caiu contra o Pentágono. O quarto avião caiu em um campo próximo de Shanksville, na Pensilvânia. Não houve sobreviventes em qualquer um dos voos.

Certo, agora pegue o seu De Lorean DMC-12 usado como máquina do tempo e venha “De volta para o Futuro” – assim como naquele filme de 1985, que deve ter estreado no ano passado no Afeganistão. Mais de 10 anos após o fatídico 11/09, este ainda é o maior atentado da história. Não era para menos, nós orquestramos a façanha de enfiar uma agulha nos olhos da maior e mais poderosa nação do planeta. Creio que o sentimento, ainda hoje, seja de uma injustiça ABSURDA. 3.389 vidas foram perdidas naquele dia. É como se o Superman tivesse sido finalmente derrotado pelo Lex Luthor, o Homem-Aranha tivesse sido morto pelo Dr. Octopus e o Hancock nunca tivesse parado de beber e se transformado em herói. Parecia que o mal havia vencido o bem. O Escritor, homem que está escrevendo este texto fingindo ser eu, já morou nos Estados Unidos, e pôde ver com seus próprios olhos como este dia ainda assusta aquelas pessoas. A data jamais será esquecida no mundo todo, mas para eles, quando chega dia 11 de Setembro bate um sentimento profundo de tristeza, ódio e vingança contra mim e a todos os muçulmanos vivos no mundo. Alguns americanos nem tocam no assunto. Afinal, 3.389 vidas foram perdidas sob minhas ordens.

No dia 12 de Setembro, iniciou-se então uma caçada histórica contra o maestro do ataque. O maior pique-esconde já contado. O alvo, eu. Contudo, essa caçada terminou na semana passada, com a invasão da minha mansão no Paquistão e um tiro na minha cabeça de turbante. A missão estava sendo planejada há quase 9 meses e não tinha como objetivo me capturar, mas sim me executar – nada seria mais justo. Na mesma noite pessoas foram as ruas! Faixas, cartazes expressavam o contentamento e o sentimento de “missão cumprida”! Pessoas davam entrevistas em clima de Reveillon na Times Square, rostos pintados, parecia 4 de Julho! – Mas de tudo isso você já sabe. “Tá, seu Binládi, então me diga algo que eu não saiba, porque até agora não entendi onde o senhô tá indo.” – Tá certo, que Alá me ajude a te explicar agora.

Eu, Osama Bin Landen – ou também conhecido como o Anti-Cristo, demônio, bicho papão ou chupa cabra, perdurei na lista dos mais procurados pelo FBI durante 155 meses, até eu ser finalmente morto semana passada. Uma recompensa de U$25 milhões de dólares havia sido oferecida pela minha cabeça. Até um fazendeiro do Texas foi atrás de mim nas montanhas do Afeganistão, com uma pistola e um facão em mãos. Os EUA investiram naquele país – na chamada Guerra ao Terror – USD 325 Bilhões, tendo assim 1.045 Soldados americanos mortos naquele local desde então. E agora vem a “pegadinha” de toda essa novela do SBT. Durante a guerra ao terror, de 2001 à 2010, nas incansáveis buscas pela minha pessoa nas montanhas de Tora Bora, os Estados Unidos ASSASSINARAM 9.614 civis Afegãos. Um número ABSURDAMENTE maior do que o número de pessoas mortas nas torres gêmeas. E quando dizemos civis, queremos dizer INOCENTES – não militares – assim como as vítimas do 11/09. Nestes civis estavam crianças, mulheres, idosos, trabalhadores, médicos, padres, engenheiros, políticos – se bem que os últimos não fazem muita falta no mundo.

Agora, pare e pense. Estamos celebrando a minha morte, a morte do anti-cristo, daquele que, sem o menor escrúpulo, tirou a vida de 3 mil civis inocentes em Nova York. No entanto, o mundo está se esquecendo do fato de que para que isso acontecesse foram tiradas 9 mil outras vidas inocentes. Alguém já viu um memorial para os Afegãos mortos pelas tropas americanas? Uma estátua? Um minuto de silêncio? Um potinho para juntar anéis de latinha para ajudar aquelas pessoas a reconstruírem suas vidas? Não. Sabem por que? Porque estamos ocupados demais procurando o lobo que matou 3 mil ovelhas que não temos tempo para notar o lobo vestido de ovelha que vem matando mais de 9 mil ovelhas embaixo dos nossos narizes. De maneira nenhuma o autor deste texto é a favor de qualquer ato que a Al-Qaeda tenha cometido, ele acredita que nada, absolutamente nada justifica uma morte. Neste momento, enquanto ele saboreia seu café e escreve este texto, eu estou aqui ao Lado de Hitler jogando truco no inferno, para ver quem vai perder e dar a sentada no abacaxi de hoje. Termino esta carta com uma pergunta: até quando iremos poupar os terroristas de terno e gravata da lista dos mais procurados pelo FBI?

 – Droga. Perdi, pega o abacaxi pra mim por favor Adolf?

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